domingo, 19 de junho de 2011

O trivial da Contabilidade substituído pela simplicidade da matemática fuzzy

Série Artigos Barros Nelci & Santos Neri

" A NECESSIDADE DE UMA NOVA CONTABILIDADE"
“A medida que a complexidade de um sistema aumenta, nossa habilidade para fazer afirmações precisas e que sejam significativas acerca deste sistema diminui até que um limiar é atingido além do qual precisão e significância (ou relevância) tornam-se quase que características mutuamente exclusivas"
Lofty Zadeh da Universidade da Califórnia

NELCI BARROS, DR. ENG.
Artigo originalmente publicado com o título: THE KNOWLEDGE QUESTION: A NEW ACCOUNTANCY. InUniversidade Federal de Santa Catarina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção – Centro Tecnológico CX. Postal 476 CEP.:88040900 Florianópolis Santa Catarina
Neri dos Santos, Dr. Ing.
Universidade Federal de Santa Catarina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção – Centro Tecnológico CX. Postal 476 CEP.:88040900 Florianópolis Santa Catarina


Resumo
Este artigo enfoca a questão do conhecimento e sua valoração econômica. Entretanto, antes de inserir a discussão sobre o conhecimento , o artigo resgata a história da contabilidade e discute a questão da simplificação de sistemas complexos, comuns na contabilidade e economia atuais, pelo emprego de metáforas com base em falsas analogias. Evidencia o quanto à economia está interessada nas quantidades e nas proporções, mais do que nas formas e nas estruturas.
Nesse contexto, é discutida a expressão “Capital Intelectual” e a idéia de cadeia de valor, do ponto de vista da intervenção do valor, como fenômeno fundador dos movimentos econômicos por suas variações no tempo e não por seus níveis absolutos.
Finalmente, discute-se a relação entre conhecimento e valor e seu papel na cadeia de valor.
Palavras - Chaves: Contabilidade, Capital Intelectual, Conhecimento
Epistemics and economics. A critique of economic doctrines. Cambridge University Press, 2000
C:\My Documents\Textos CWB\Artigo Nelci Neri Contabilidade.doc.

Introdução
A partir de uma breve recuperação da história da contabilidade, o artigo passa a evidenciar que os únicos valores que figuram nos modelos econômicos atuais são aqueles que podem ser quantificados mediante a atribuição de pesos monetários. Essa ênfase dada à quantificação confere à economia a aparência de uma ciência exata. Ao mesmo tempo, contudo, ela restringe severamente o âmbito das teorias econômicas na medida em que exclui distinções qualitativas que são fundamentais para o entendimento das dimensões ecológicas, sociais e psicológicas da atividade econômica. Por outro lado, o racionalismo reducionista que serviu a “Era da Informação”, encontra dificuldades incomensuráveis para sobreviver na “Era do Conhecimento”. Nesse sentido, Nonaka chama atenção para o papel da ambigüidade e importância da redundância quando apresenta sua critica a Simon: (…) “Simon argumentou que o processamento eficaz das informações só era possível quando problemas complexos eram simplificados de tal modo que as unidades não interagissem desnecessariamente entre si (Nonaka & Takeuchi, 1992). E observa Nonaka, (…) “Essa visão racionalista, tipicamente cartesiana, o fez negligenciar o potencial humano de criação do conhecimento tanto no nível individual quanto no nível organizacional; ele não conseguiu ver os seres humanos como indivíduos que descobrem ativamente problemas e criam conhecimentos para resolvê-los (Nonaka & Takeuchi, 1992).
O artigo discute a questão de simplificação de sistemas complexos pelo emprego de metáforas com base em falsas analogias, o que acaba por comprometer o recorte de realidade desejado pelos autores que incorrem com freqüência nessa armadilha epistemológica. Entretanto, diante das transformações que vem sofrendo o sistema capitalista, gerando um novo mundo onde não se pode mais resolver as coisas com instrumental da era industrial, se faz necessário buscar novos instrumentos para mensurar o trabalho do homem. Nesse sentido, evidencia o quanto a economia está interessada nas quantidades e nas proporções, mais do que nas formas e nas estruturas. Coloca em discussão a expressão em voga “Capital Intelectual” como analogia que carece de fundamento lógico. Com base nessa questão, é elaborado o conteúdo da passagem do Homo economicus para o Homo cognoscens, criador da organização de aprendizagem.
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Discute a cadeia de valor, do ponto de vista da intervenção do valor, como fenômeno fundador dos movimentos econômicos por suas variações no tempo e não por seus níveis absolutos. O artigo aponta a questão da nova «mão invisível1» do sistema emergente, onde não é mais o mercado, mas a rede que coloca o homem comportando-se economicamente como uma colmeia se comporta biologicamente.
Nessa nova sociedade, a riqueza concentra-se na capacidade e na velocidade com que informações são transformadas em ações. Pelo exposto, uma nova contabilidade nascerá. Não mais com base em algoritmos tradicionais, mas com suporte em disciplinas como a lógica difusa ("fuzzy logic"), capaz de oferecer a modelagem do sistema-empresa uma contribuição de natureza pragmática no tratamento da imprecisão, introduzindo, por exemplo, a capacidade de considerar variáveis qualitativas e utilizá-las na tomada de decisão, com um suporte matemático apropriado. Teorias como a dos conjuntos difusos (base da lógica difusa) oferecem potencialmente na microeconomia e na gestão do conhecimento um campo de aplicação privilegiado.
1. 0 O aparecimento da contabilidade
O homem sempre esteve interessado em registrar suas transações de troca. Os primeiros indícios de atividades comerciais datam de 4.500 a.C.. Neste período, os Assírios, Caldeus e os Sumérios, povos que viviam na Mesopotâmia, região entre os rios Tigre e Eufrates, produziram colheitas excelentes por causa do solo muito fértil. A riqueza dessa região deu origem a cidades onde apareceram os primeiros pólos comerciais. No Egito, os negócios efetuados eram registrados utilizando-se o Papiro e o sistema hieróglifo. Os responsáveis pela escrita eram os Escribas que hoje são considerados os precursores do contabilista. No Império Babilônico, os registros eram efetuados utilizando-se placas de argila de tamanhos e formatos diferentes e o sistema cuneiforme. Os Fenícios se destacaram na antigüidade por terem o comércio como sua principal atividade. Deram um grande impulso ao comércio marítimo e utilizaram um alfabeto próprio para realizar seus registros. Na República
1 Referência a Adam Smith , A Riqueza das nações, Investigação sobre sua natureza e suas causas, Vol 1 e 2 , Editora Nova Cultura Ltda., São Paulo, 1996.
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Romana, 200 a.C., surgem registros governamentais mais elaborados, descriminando lucros, despesas e relações de propriedades. Na Idade Média, na Inglaterra, empregavam-se livros especiais para os registros de negócios e propriedades. Leonardo de Pisa publica um livro contendo capítulos sobre adição, subtração, preço de produtos, sociedades, e introduz os dez numerais arábicos: 1,2,3,4,5,6,7,8,9 e 0, é neste panorama que surge o Método das Partidas Dobradas (MASI, 1955) . O aparecimento da contabilidade como um método de controle e registro das operações comerciais, só foi possível devido a existência simultânea de certos elementos. São eles: (I) Escrita; (II.) Aritmética; (iii) Propriedade; (iv) Comércio; (v) Capital.
Atribuí-se a Luca Pacioli, um frade franciscano, nascido na Itália, a criação da contabilidade, mais especificamente do Método das Partidas Dobradas. Em 1494, Pacioli publicou um tratado de matemática denominado “Suma de Aritmética, Geometria, Proporções e Proporcionalidade”, no qual incluía 36 capítulos sobre contabilidade, denominado de “Tratado Particular de Conta e Escrituração”. Pacioli não requisitou para si a autoria do Método das Partidas Dobradas. Segundo documentos da época, esse método já era usado há alguns anos pelos comerciantes de Veneza (MATTESSICH, 1960). Coube a ele o mérito de organizar um sistema completo de contabilidade, que ainda hoje é usado no mundo inteiro. A revolução industrial, a intensificação do comércio internacional, as guerras, acarretaram inúmeras falências e a necessidade de levantamentos de perdas e lucros. O crescimento dos negócios no século XX, foram fatores que concorreram para o aperfeiçoamento da contabilidade ( VLAEMMINCK, 1961) .
A contabilidade como conhecemos hoje, se ajustou a Revolução Industrial oferecendo suporte para registro dos atos e fatos necessários às transações geradas pelas atividades comerciais e industriais.
Entretanto, as transformações que vem sofrendo a economia mundial, estão gerando um mundo onde não se pode mais resolver as coisas com instrumental da era industrial. Uma nova contabilidade vai surgir para dar conta de outras formas de apropriação onde a consideração explícita da imprecisão inerente a informação será dominante.

A economia atual caracteriza-se pelo enfoque reducionista e fragmentário típico da maioria das ciências sociais. De um modo geral, os economistas não reconhecem que a economia é meramente um dos aspectos de todo um contexto ecológico e social: um sistema "vivo" composto de seres humanos em contínua interação e com seus recursos naturais, a maioria dos quais, por seu turno, constituída de organismos vivos. Para Capra, “O erro básico das ciências sociais consiste em dividir essa textura em fragmentos supostamente independentes, dedicando-se a seu estudo em departamentos universais separados" (Capra, p: 180, 1982).
Os economistas embora saibam que os fenômenos estudados não são de ocorrência linear, se comprazem assim mesmo a elaboração de modelos lineares para estudar as questões econômicas a partir desse recorte da realidade. Os únicos valores que figuram nos modelos econômicos atuais são aqueles que podem ser quantificados mediante a atribuição de pesos monetários. Essa ênfase dada à quantificação confere à economia a aparência de uma ciência exata. Ao mesmo tempo, contudo, ela restringe severamente o âmbito das teorias econômicas na medida em que exclui distinções qualitativas que são fundamentais para o entendimento das dimensões ecológicas, sociais e psicológicas da atividade econômica.
Para Capra são geradas grandes distorções segundo esta metodologia de apropriação. (…) “Por exemplo, a energia é medida apenas em quilowatts, independentemente de sua origem; nenhuma distinção é feita entre bens renováveis e os não-renováveis; e os custos sociais de produção são adicionados, incompreensivelmente, como contribuições positivas para o Produto Nacional Bruto (Capra, 1983).
A teoria econômica tradicional é linear e não se dá conta das formas , conforme assinala Schackle: (…) "A economia está interessada nas quantidades e nas proporções, mais que nas formas, nas estruturas, e nas combinações finas e complexas de componentes : de uma rica variedade (...). Mas essa polarização sobre os aspectos cifrados dos negócios exclui de uma parte muito grande tudo aquilo que toca mais profundamente o homem de negócios e o homem comum, na plenitude de sua natureza. Pode-se dizer que: a economia adotou como mapa a questão “quanto "? e, consciente e deliberadamente, descartou todos os “como"? (Schackle, 1972).

Nesse universo de racionalidade absoluta, a imprecisão (e, em particular, a incerteza) irre-dutível ligada ao futuro é ignorada. Se ela é aparentemente levada em conta nas abordagens probabilísticas, estas, estão sobrepondo-se as possibilidades, quantificando-as, e reintegrando-as ao presente numa esperança matemática agregada. A marcha probabilista procura, dessa forma, converter a incerteza em certeza estatística.

A Gestão do Conhecimento e o “Capital Intelectual”
Apesar das expressões Gestão do Conhecimento e Capital Intelectual serem, muitas vezes, usadas indistintamente, é conveniente notar que a primeira comunica uma idéia de processo, portanto dinâmica e abrangente, enquanto que a segunda refere-se à noção de estoque. Capital Intelectual é uma falsa analogia. O conhecimento das pessoas, numa economia intensiva em conhecimento, adquire características de um bem potencialmente valioso, às vezes escasso, mas que idealmente deve ser compartilhado. Cabe a ressalva, de ser inadequada a expressão Capital Intelectual, uma vez que a analogia do Conhecimento com o Capital não se mostra adequada por varias razões. A primeira, diz respeito a sistemática de considerar a existência de capital intelectual. O capital é cumulativo e seu uso oferece variações de perda e acumulação, enquanto o Conhecimento não se desgasta pelo uso e aplicação. Ao contrário, cresce pelo uso e desaparece se não for utilizado. A segunda, diz respeito a simplificação de sistemas complexos utilizando-se de metáforas simplificadoras, cujo recorte da realidade passa a ser aplicado resultando em distorções.
Na literatura atual que discorre sobre gestão do conhecimento, são abundantes os exemplos do valor de marca de uma empresa ou produto, associado ao “quanto” de conhecimento está encerrado no produto considerado. Gráficos demonstrativos são elaborados, procurando mostrar a parte do conhecimento contida nas ações dessas empresas ao lado de seu valor patrimonial. Trata-se de abuso da metáfora de construção. Não há meios de realizar essa quantificação tomando como suporte nossos paradigmas da contabilidade atual. Não cabe nesse espaço discutir as questões de volatilidade e formação de preços que estabelecem o valor de ação das empresas em bolsa. Entretanto, vale acrescentar que por certo, não é medindo o conhecimento contido em cada produto ou assegurado por marcas e patentes que poderemos chegar ao número procurado. É preciso ter em mente que nesse campo muito está para ser construído, e por certo não poderemos nos valer nem da economia em seu arcabouço atual e tão pouco da contabilidade das partidas dobradas de Frei Luca.

0 Do Homo economicus ao Homo cognoscens

A inovação organizacional é hoje mais portadora de progresso potencial que a inovação tecnológica pura. Isso explica o papel central da organização nos fenômenos econômicos atuais.
Na sociedade industrial, a riqueza estava associada a um modelo de produção que privilegiava a padronização e a segmentação. Na sociedade do conhecimento, o novo modelo de produção pressupõe a conectividade e a integração, com os processos sendo vistos em sua totalidade e o conhecimento se constituindo no mais importante recurso de agregação de valor aos produtos. Nessa nova sociedade, a riqueza concentra-se na capacidade e na velocidade com que as informações são transformadas em ações.
O saber criador e o conhecimento, são por sua aplicação à produção de riquezas econômicas, as fontes diretas dos movimentos de valor, portanto, dos fenômenos econômicos. A tecnologia aparece como uma acumulação histórica de saberes sociais, apropriados em hardware tanto sob a forma de equipamentos, cristalizando as aquisições tecnológicas, quanto sob a forma de qualificações, cristalizando as aprendizagens coletivas. O investimento (material ou imaterial) é um crescimento desse “saber” , ele só atua sobre o desenvolvimento econômico (produtividade global) através de seu conteúdo (direto ou indireto) em inovação.

Tal abordagem lança uma luz aos debates; amiúde intermináveis e insolúveis, sobre o valor, por exemplo : o famoso debate sobre a teoria marxista da transformação do valor em preço de produção.
O Homo economicus se torna Homo cognoscens, definido pela informação que recebe, que cria e trata, geralmente de maneira coletiva. Ele se constrói no conhecimento, sempre modificado e sempre enriquecido pelo efeito retroativo da experiência. A verdadeira produtividade é fundada sobre os saberes (técnicos, sociais e de organização) e as qualidades que daí decorrem: qualidade do trabalho humano, qualidade dos equipamentos. O desempenho não é individual, é social. A criação de conhecimento formal se dá no âmbito do grupo social, do conhecimento tácito ao conhecimento explícito e sua formalização. (Nonaka & Takeuchi, 1996 ).
Do ponto de vista da atual contabilidade, esse problema é geralmente abordado de maneira estática. A maior parte dos comentários e discussões, que ele inspirou, se situa, implicitamente ou não, em um espaço atemporal ou falsamente temporal: equações de uns e críticas de outros se inscrevem em um espaço sincrônico.
Nesse "corte" sincrônico da realidade , os problemas colocados são perfeitamente insolúveis. Valor e preço, que se movem em um universo diacrônico (através do tempo), não se ajustam e não têm nenhuma razão de fechar ciclos, de maneira sincrônica.
O valor, intervém como fenômeno fundador dos movimentos econômicos por suas variações no tempo e não por seus níveis absolutos. O conhecimento surge como componente da cadeia de valor. Entretanto, uma Iei estática do valor não pode servir de base para a compreensão de um mundo econômico estruturado pelo movimento (irreversível) e pelo desequilíbrio.
A única lei do valor realmente pertinente deve ser uma lei da mudança de valor: a lei fundadora da teoria econômica não deve ser a lei do valor, mas uma lei da mudança de valor. As variações de valor são fundadas sobre a inovação, isto é, sobre a exploração heurística de novos saberes técnico-organizacionais.
A mudança de valor, que "dinamiza" o sistema econômico , resulta da inovação, isto é, do desenvolvimento e da colocação em prática de novos conhecimentos. Tal observação abre a via para uma abordagem cognitiva do valor.
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É necessário, utilizar em economia as conquistas da cognótica para apreender os compor-tamentos da aprendizagem, da construção do conhecimento e da inovação. O Homo economicus se torna Homo cognoscens, definido pela informação que recebe, que cria e trata, geralmente de maneira coletiva. Ele se constrói no conhecimento, sempre modificado e sempre enriquecido pelo efeito retroativo da experiência. A verdadeira produtividade é fundada sobre os saberes (técnicos, sociais e de organização), as qualidades que daí decorrem: qualidade do trabalho humano, qualidade dos equipamentos e sua aplicação na produção de bens e serviços.
Nenhuma acumulação quantitativa poderia explicar o crescimento passado: (…) "Os entomologistas", explica Simon, "podem freqüentemente distinguir diferentes tipos de mariposas pelas diferenças dos casulos que elas constróem. Os casulos são diferentes porque as mariposas são diferentes. Da mesma maneira, as mudanças nos equipamentos físicos destinados à produção são sintomas de mudanças correspondentes ao próprio homem. São sintomas, em particular, de duas espécies de mudanças internas nos talentos: as mudanças nos talentos para fabricar esses equipamentos e as mudanças nos talentos para utilizá-los" (SIMON, 1966).
A «mão invisível2» do sistema emergente já não é o mercado, mas a "rede". E esta comporta-se economicamente, como uma colmeia se comporta biologicamente. Ela tem, três características que a distingue do mercado : (I) é global; (II.) , favorece tudo o que é intangível (idéias, informação, saber e relações); (iii) está intensivamente interligada. Estes três novos atributos criaram um novo tipo de mercado e de sociedade, baseado em redes eletrônicas.
Por outro lado, a Revolução Financeira que se avizinha na passagem do século, é muito mais importante do que o comércio eletrônico. E tem-se apontado ainda menos de uma coisa absolutamente revolucionária em termos de mercado - o conceito de leilões lançado pela “eBay.com” 3. Esse conceito indica que ela acabou por definir uma tendência. O
2 Referência a Adam Smith , A Riqueza das nações, Investigação sobre sua natureza e suas causas, Vol.1 e 2 , Editora Nova Cultura Ltda., São Paulo, 1996.
3 A comunidade virtual eBay é composta de compradoras individuais e vendedores que podem comparar preços, e conseguir saber um do outro, tópicos de interesse mútuo, solicitar um ao outro informação. O eBay se torna uma parte dos estilos de vida de usuários. Muitos usuários criaram segundos negócios, ou passaram a vender artigos para centenas de milhares de outros, usuários eBay . (http://www.ebay.com/)

O conceito dos leilões vai estender-se a todo o comércio de varejo. Vai criar uma economia de leilão, um mercado em que o preço passa a ser negociável. Será outra nova lei.
Quando, neste contexto, se aborda o domínio da incerteza e da aprendizagem, a subjetividade domina o assunto: a empresa ou o gestor sentem uma aversão pelo risco que lhes é próprio, uma fé no futuro que remete a sua concepção de mundo e a sua filosofia íntima, uma capacidade de aprendizagem ligada a sua motivação e a seu projeto .
Essa subjetividade tem implicado em autonomia e miopias parciais: os julgamentos e as expectativas externas relativas ao comportamento do sujeito serão expressos em enunciados qualitativos e aproximativos da linguagem natural como por exemplo as expressões: "Ele trabalha bem", "A solução é boa", mais que os enunciados de contornos entremeados de linguagem matemática; "ele trabalha a 90% dos padrões estabelecidos", " a solução realiza o ótimo sob tais restrições” e assim por diante.
Na realidade o sistema-empresa responde a uma natureza imprecisa (mais especificamente difusa, no sentido da teoria dos conjuntos difusos - "fuzzy sets"), dos quais a microeconomia e a gestão oferecem potencialmente uma campo de aplicação privilegiado.
A teoria dos conjuntos difusos3 responde a uma observação feita por L. Zadehk em 1978: "À medida que se amplia a complexidade de um sistema, nossa aptidão em formular afirmações precisas mais significantes sobre seu comportamento diminui até um limiar do qual a precisão e o sentido se tornam naturalmente exclusivos". Penetra-se então no domínio dos enunciados "aproximativos": os elementos x de um conjunto U não podem mais, relativamente a um subconjunto A, ser repartidos de maneira binária entre "elementos pertencentes a “A" e elementos não-pertencentes a “A". Os elementos x apresentarão um certo grau de compatibilidade com A, fornecida por uma função r de pertinência f(x). Se x tem um grau de compatibilidade com A de 0 ou de 1, reencontram-se os casos "clássicos" de pertinência ou de não-pertinência. Mas todos os valores intermediários descrevem a "zona difusa" de compatibilidade parcial com A.
3 O pesquisador que cunhou o termo "Fuzzy Logic", que traduziremos por Lógica difusa, foi o professor Lofty Zadeh da Universidade da Califórnia. Esta teoria foi introduzida pelo professor Zadeh nos anos 60. Esta é teoria é um super conjunto da Lógica Booleana convencional que foi estendida para incluir o conceito de verdade parcial, valores entre totalmente verdade e totalmente falso.
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O grau de pertinência pode se exprimir: por números compreendidos entre 0 e 1 , por valores não-cifrados (por exemplo, emprestados da linguagem do senso comum: "um pouco", "medianamente", "muito"), totalmente ordenados e permitindo estabelecer comparações e preferências de maneira exaustiva (sobre todos os pares de elementos), ou parcialmente ordenados (não permitindo estabelecer comparações a não ser entre certos pares de elementos).
O grau de pertinência exprime uma classificação mais ou menos precisa e mais ou menos completa, a respeito do critério que formaliza o conjunto difuso. Pode-se tratar, por exemplo, de um julgamento de valor sobre uma decisão: o grau de compatibilidade da decisão considerada com o conjunto de decisões satisfatórias. Reflete um julgamento, correspondente a um certo estado de informação, aproximativo e sem dúvida temporário, e que a experiência permitirá depurar.
Essa teoria oferece um instrumento suscetível de descrever a racionalidade limitada. Aquela postula um julgamento (na forma de uma relação de ordem completa, ou parcial entre as decisões) que tenta em seguida aperfeiçoar, pela experiência (por exemplo, através do método de tentativa erro). Há esforço contínuo para tornar precisos os contornos do subconjunto "satisfatório" dessas decisões, enquanto as transformações tendem, de forma permanente, a dificultar sua melhor definição. Ali, onde uma racionalidade perfeita procura delimitar o espaço de aceitabilidade de maneira unívoca por um ótimo, a racionalidade limitada se exprime por uma "zona de satisfação" difusa (não-localizada pelo ótimo).
Por exemplo: se a zona de satisfação se define da seguinte maneira:
• custo C compreendido entre X e X + ΔX ;
• taxa de refugo inferior a 2%, com um objetivo de 1% "razoável” a custo razoável;
A escolha entre três decisões A, B e C, respectivamente com melhor desempenho quanto ao custo, à qualidade e ao prazo, só pode ser operada sobre a base de um julgamento de valor (relação de ordem implícita entre trios de parâmetros) suscetível de evoluir à luz da experiência.
Não existe sistema mágico de coeficientes de ponderação que permita reduzir uma realidade que possui características quantitativas e qualitativas inerentes e importantes a

Uma escala numérica única sem perder uma parte essencial da informação. Daí o grande potencial do uso da teoria dos conjuntos difusos para servir de esteio ao desenvolvimento de novas formas de registro “contábil” para as nuances do conhecimento nas organizações.
Considerações finais
A função de progresso econômico é assegurada pela elaboração do saber que modifica o valor. A aprendizagem desses novos saberes passa pela melhoria das representações e de seu poder organizador em vista da eficiência. Como discutimos, a melhor das representações não segue procedimentos algorítmicos mas heurísticos. A contabilidade como está posta, terá que evoluir para uma dinâmica fluída, não algorítmica, suportada por técnicas heurísticas de apropriação.
O sistema- empresa deve ser submetido a um aparelho de medida e de condução, mas este deve, ele mesmo, ser medido e conduzido. A medida da medida, a reinvenção das regras, a engenharia da mudança são funções essenciais na empresa moderna, cuja organização, muitas vezes é estruturada por projetos temporários, o que a torna mais móvel.
O sujeito criador da atividade econômica, portanto, tem necessariamente uma dimensão crítica: ele não pode deter o dinamismo da inovação senão tendo o poder de criticar e de modificar as regras que regem a atividade (regras de decisão, regras técnicas de processo, regras de definição do produto). Novas ferramentas e parâmetros para a mensuração da Era do Conhecimento é o desafio presente.
A lei da mudança do valor exige, da parte desse Homo economicus, uma antecipação da criatividade futura.
A valoração do conhecimento e o registro de seu valor com o auxílio de uma nova contabilidade, que considere adequadamente a imprecisão inerente a nova ordem econômica, são desafios que estão na pauta das pesquisas para as novas bases da economia do conhecimento.

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